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Pesquisadora da UnB descobre fóssil raro na Formação Quiricó, em Minas Gerais

Dente de pterossauro de 120 milhões de anos encontrado na Bacia do São Francisco revela nova peça da conexão entre América do Sul e África

Redação
Por: Redação
04/12/2025 às 14h10 Atualizada em 09/12/2025 às 17h47
Pesquisadora da UnB descobre fóssil raro na Formação Quiricó, em Minas Gerais
Flávia Fialho coletando amostras nos folhelhos papiráceos, formações rochosas da Bacia de São Francisco/ Foto: Arquivo pessoal

A pesquisadora Flávia Fialho, 47 anos, encontrou um dente de pterossauro de 120 milhões de anos durante escavações realizadas na Formação Quiricó, na Bacia do São Francisco, em Minas Gerais — local que se tornou o grande destaque da descoberta. O fóssil, achado durante sua pesquisa de doutorado, agora integra o acervo do Museu de Geociências (MGEO) da Universidade de Brasília.

A Formação Quiricó, um dos maiores e mais importantes sítios paleontológicos do país, é conhecida por abrigar fósseis de peixes, plantas e outros animais pré-históricos, mas nunca havia registrado dentes de pterossauros. “Poderíamos ter achado dentes de tubarão ou crocodilo, que já eram esperados ali. Mas demos sorte de encontrar o de um pterossauro, algo inédito na região”, afirma Flávia, curadora do MGEO.

Embora um único dente não permita identificar precisamente a espécie, trata-se de um réptil voador com envergadura entre dois e quatro metros e crânio de cerca de 66 centímetros. Vestígios de pterossauros já haviam sido encontrados no Ceará, Paraná, Bahia e Maranhão, mas nunca na região da Formação Quiricó, o que reforça a importância do local como fonte de novos estudos.

Flávia destaca que o sítio mineiro é extremamente rico, porém ainda pouco explorado cientificamente. A descoberta deve incentivar novas expedições e pesquisas na área. O dente ainda não está em exposição, mas a curadora planeja incluí-lo em uma futura reformulação do museu, possivelmente em uma oficina educativa que recrie o ambiente cretáceo da Bacia do São Francisco.

A escavação em Minas que mudou os rumos da pesquisa

O achado ocorreu durante três expedições realizadas entre 2020 e 2022. A equipe se instalava em Patos de Minas e viajava diariamente cerca de 60 km até a Fazenda de São José, ponto exato das escavações na Formação Quiricó. Ali, entre rochas conhecidas como folhelhos papiráceos, a equipe utilizava martelos e formões para procurar fósseis.

Em 2022, uma colega de Flávia encontrou o pequeno dente enquanto quebrava as rochas. A peça chegou a partir ao meio após cair no solo, mas foi recuperada e analisada posteriormente. Ao retornar a Brasília, Flávia percebeu que não se tratava de dente de crocodilo, cobra ou dinossauro — espécies já conhecidas naquela região. As características indicavam um pterossauro, com semelhanças ainda maiores com fósseis encontrados em Marrocos, reforçando a antiga ligação geográfica entre a África e a América do Sul prevista na Teoria da Deriva Continental.

Curiosamente, no início, seu orientador acreditou que o dente fosse apenas mais um fóssil comum da região. Flávia insistiu na análise e acabou produzindo três artigos científicos sobre a Bacia do São Francisco. A relevância da descoberta foi tanta que o material já foi apresentado até em um simpósio internacional, na Alemanha.

Paixão pela ciência e pela paleontologia

Formada em biologia, Flávia trabalha no Museu de Geociências há nove anos. A paixão pela paleontologia veio da vontade de entender não só os seres vivos do presente, mas também os processos evolutivos que moldaram a vida na Terra. “Quando comecei a estudar paleontologia, minha cabeça abriu”, conta.

Visitante assídua de grandes museus do mundo, como o de História Natural de Nova York e o de Londres, Flávia afirma que a divulgação científica é sua grande motivação. O MGEO, localizado no ICC Norte da UnB, tem entrada gratuita e recebe escolas, estudantes e visitantes em geral.

A descoberta do dente de pterossauro não só destaca a riqueza da Formação Quiricó, como também simboliza o impacto do trabalho persistente de uma pesquisadora que decidiu olhar com mais atenção para o solo mineiro — e encontrou ali uma peça rara da história da Terra.

Flávia Fialho, 47, com o fóssil encontrado na Bacia do São Francisco - (crédito: Artur Maldaner/CB Press)

 

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