

A pesquisadora Flávia Fialho, 47 anos, encontrou um dente de pterossauro de 120 milhões de anos durante escavações realizadas na Formação Quiricó, na Bacia do São Francisco, em Minas Gerais — local que se tornou o grande destaque da descoberta. O fóssil, achado durante sua pesquisa de doutorado, agora integra o acervo do Museu de Geociências (MGEO) da Universidade de Brasília.
A Formação Quiricó, um dos maiores e mais importantes sítios paleontológicos do país, é conhecida por abrigar fósseis de peixes, plantas e outros animais pré-históricos, mas nunca havia registrado dentes de pterossauros. “Poderíamos ter achado dentes de tubarão ou crocodilo, que já eram esperados ali. Mas demos sorte de encontrar o de um pterossauro, algo inédito na região”, afirma Flávia, curadora do MGEO.
Embora um único dente não permita identificar precisamente a espécie, trata-se de um réptil voador com envergadura entre dois e quatro metros e crânio de cerca de 66 centímetros. Vestígios de pterossauros já haviam sido encontrados no Ceará, Paraná, Bahia e Maranhão, mas nunca na região da Formação Quiricó, o que reforça a importância do local como fonte de novos estudos.
Flávia destaca que o sítio mineiro é extremamente rico, porém ainda pouco explorado cientificamente. A descoberta deve incentivar novas expedições e pesquisas na área. O dente ainda não está em exposição, mas a curadora planeja incluí-lo em uma futura reformulação do museu, possivelmente em uma oficina educativa que recrie o ambiente cretáceo da Bacia do São Francisco.
O achado ocorreu durante três expedições realizadas entre 2020 e 2022. A equipe se instalava em Patos de Minas e viajava diariamente cerca de 60 km até a Fazenda de São José, ponto exato das escavações na Formação Quiricó. Ali, entre rochas conhecidas como folhelhos papiráceos, a equipe utilizava martelos e formões para procurar fósseis.
Em 2022, uma colega de Flávia encontrou o pequeno dente enquanto quebrava as rochas. A peça chegou a partir ao meio após cair no solo, mas foi recuperada e analisada posteriormente. Ao retornar a Brasília, Flávia percebeu que não se tratava de dente de crocodilo, cobra ou dinossauro — espécies já conhecidas naquela região. As características indicavam um pterossauro, com semelhanças ainda maiores com fósseis encontrados em Marrocos, reforçando a antiga ligação geográfica entre a África e a América do Sul prevista na Teoria da Deriva Continental.
Curiosamente, no início, seu orientador acreditou que o dente fosse apenas mais um fóssil comum da região. Flávia insistiu na análise e acabou produzindo três artigos científicos sobre a Bacia do São Francisco. A relevância da descoberta foi tanta que o material já foi apresentado até em um simpósio internacional, na Alemanha.
Formada em biologia, Flávia trabalha no Museu de Geociências há nove anos. A paixão pela paleontologia veio da vontade de entender não só os seres vivos do presente, mas também os processos evolutivos que moldaram a vida na Terra. “Quando comecei a estudar paleontologia, minha cabeça abriu”, conta.
Visitante assídua de grandes museus do mundo, como o de História Natural de Nova York e o de Londres, Flávia afirma que a divulgação científica é sua grande motivação. O MGEO, localizado no ICC Norte da UnB, tem entrada gratuita e recebe escolas, estudantes e visitantes em geral.
A descoberta do dente de pterossauro não só destaca a riqueza da Formação Quiricó, como também simboliza o impacto do trabalho persistente de uma pesquisadora que decidiu olhar com mais atenção para o solo mineiro — e encontrou ali uma peça rara da história da Terra.





