Quando éramos crianças, víamos nas histórias que um reino encantado era quase inacessível – a menos que fosse através da nossa imaginação. Porém, não precisamos de ir até tão tão distante para chegarmos a este lugar incrível. É o que uma estudante que mora em Sete Lagoas quer mostrar na escrita da sua primeira obra que fala sobre a cultura e as tradições do lugar de onde veio.
Edilane Silva é do reino, quer dizer, de Congonhas do Norte, cidade que fica a 219 km de distância de onde se escreve este texto. Há 16 anos por aqui, ela abandonou o encanto em busca de estudos (hoje, ela faz curso de pedagogia) e foi em um trabalho da faculdade que ela foi “desafiada” em contar uma história lúdica. “Teresa e o Reino Encantado” é, antes de tudo uma história baseada em fatos reais sobre a história da Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que acontece no mês de setembro.
“A gente esperava o ano inteiro para chegar setembro, porque, como a gente é do interior muito simples, setembro era o mês que a mãe comprava roupa nova, que podia arrumar o cabelo. E aí, ficava esperando chegar o mês, para a gente poder sair no meio da marujada, que é o reinado”, conta Edilane. Sua família tem a tradição de produzir mais de mil marmitas durante os dias da festa, e que também realizava a comida para a marujada.
Para reunir toda essa informação, a estudante mal demorou mais de um dia para contar tudo. O professor tinha pedido para que no texto estivesse elementos como a cultura e o lúdico para o público infantil; e nada mais lúdico que uma grande festa popular, carregada de fantasia e cor: “Para quem não conhece, quando se lê, você consegue imaginar como que é aquela criança vendo o boizinho, como que é a comida que a vovó faz pra aquele pessoal. E tem o movimento da dança, o movimento do boizinho, e o lúdico, que complementa tudo. Aí juntou a pedagogia com a minha cultura e coloquei dentro da história”, relata Edilane.
Há algum tempo, ela levou a filha Ana Teresa para conhecer o seu reino. Ela se encantou com esta festa, com o som que os marujos fazem ao bater suas caixas e chocalhos e com o boizinho, que sai pelas ruas da cidade, de casa em casa bebendo um gole de cachaça e fazendo a alegria das crianças. Hoje, Ana Thereza também faz parte do reinado. “É uma cultura bem raiz, bem bonita”.
A produção da história tem um quê de Alice no País das Maravilhas, como conta Edilane. Só que tudo ali é real: “Depois que eu saí de lá [de Congonhas do Norte], passou pouco tempo, meu pai faleceu. E ele tinha uma paixão muito grande por aquilo. Depois disso eu comecei a ver que aquilo é encantado, é mágico. A gente viaja, e se você for olhar a história da marujada, junta a resistência, o porquê que surgiu aquela marujada. E lá tem a distribuição do doce… E junta tudo, é o Reino Encantado. É o meu Reino Encantado”.
É a minha paixão, a minha cidade. Acho que tinha que ser esse nome. Não encontrei nenhum outro nome que encaixasse melhor do que Teresa e o Reino Encantado
E o livro já serve como inspiração para levar às crianças não só de Sete Lagoas mas de Congonhas do Norte sobre a existência desta magia que é a cultura. A educadora relatou que o material já está sendo introduzido no ensino daquela cidade para que os pequenos entendam o porquê da sua existência e como ele se faz importante para a história daquele lugar tão pequeno, mas tão rico. “Porque vai falecendo um, vai falecendo outro, e ali a cultura acaba. E a gente, como pedagogo, como professor, tem essa missão importante de não deixar acabar, porque a pedagogia com a cultura, andam muito junto”. Aqui em Sete Lagoas, Edilane já levou a história para a escola na qual leciona, a Escola Municipal Francisca Ferreira de Avelar – todos já conhecem a história e, quando veem um reinado de Moçambique, tradicional da cidade, já fazem relação com a marujada de Congonhas do Norte e do livro.
E para além de trazer um reino encantado em palavras, a estudante busca também que as crianças da região do Barreiro também possam desenvolver mais suas habilidades. No mês de setembro, ela colocará em prática o projeto “Teresa Alfabetização com Afeto”: “A partir do livro surgiu essa ideia de ajudar os meninos de alguma forma do nosso bairro. A escola sozinha não consegue suprir aquela falta que o aluno tem de não ser alfabetizado e letrado”, diz Edilane.
Hoje, “Teresa e o Reino Encantado” está apenas na internet – quem sabe, é um dos sonhos da educadora, é de ele o livro vire físico de verdade e possa alcançar mais pessoas. “Eu fico fantasiando, será que um dia eu vou conseguir publicar? Outras pessoas, além das crianças, vão conhecê-lo? Mas não é barato para publicar um livro”, lamenta. Para quem quiser saber um pouco mais, o reino de Edilane e Thereza está no Instagram, esperando a sua visita.
Fonte: Setelagoas.com.br
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