Um dos maiores símbolos brasileiros — senão o maior — agora tem um filme no catálogo da Netflix. Confesso que, ao receber a notícia, senti um certo receio. No entanto, após assistir, posso confirmar com os versos da canção da cantora IZA: “Entre o céu e o mar tem um universo, doce feito caramelo”.
O novo longa “Caramelo”, produção original da Netflix, parte de uma ideia simples, quase óbvia: dar protagonismo ao cachorro mais querido do país, o famoso “vira-lata caramelo”. O que poderia soar como puro apelo emocional se transforma em uma história honesta sobre vínculos, perda e amor — um retrato delicado do afeto entre humanos e animais.
O filme rapidamente conquistou o público: chegou ao Top 10 da plataforma em quase 70 países, e em 27 deles alcançou o primeiro lugar, consolidando-se como um dos maiores sucessos brasileiros da Netflix até hoje.
Dirigido por Diego Freitas, o longa tem como centro Pedro (Rafael Vitti), um chef de cozinha que descobre ter um câncer incurável logo após conhecer um filhote de vira-lata que insiste em não sair do seu caminho. A partir desse encontro improvável, nasce uma amizade capaz de transformar ambos.
Vitti entrega uma das atuações mais maduras de sua carreira, equilibrando emoção e naturalidade sem recorrer ao melodrama. A química entre ele e o cachorro — o verdadeiro protagonista — é o que sustenta o filme.
Apesar da trama tocar em temas pesados como doença e solidão, “Caramelo” evita o tom excessivamente trágico e aposta na leveza. O humor aparece nos momentos certos, especialmente nas cenas com Camila (Arianne Botelho), adestradora irreverente que ajuda Pedro a lidar com o tratamento e com o novo companheiro de quatro patas.
Ainda assim, o roteiro não escapa de alguns clichês do gênero “filmes de cachorro”, lembrando inevitavelmente sucessos como Marley & Eu (2008) e Sempre ao Seu Lado (2009). O início com o abandono do filhote e o desfecho previsível são fórmulas conhecidas, mas executadas com competência e emoção suficiente para convencer o espectador.
Com uma São Paulo vibrante como cenário e uma trilha sonora sensível que embala as cenas mais tocantes, “Caramelo” reforça o talento do cinema nacional em transformar o cotidiano em poesia.
O resultado é um drama emocionalmente acessível, sincero e cheio de humanidade. “Caramelo” pode não reinventar o gênero, mas entrega o que promete: uma história de amor, amizade e recomeço que faz rir com um olho e lacrimejar com o outro. E, no fim, deixa uma certeza reconfortante — às vezes, o melhor terapeuta tem quatro patas e um olhar caramelo.
Fonte: SeteLagoas.com.br