Curvelo se transforma neste mês em um polo de celebração literária e cultural, com eventos dedicados à memória e obra de João Guimarães Rosa, um dos maiores escritores da língua portuguesa. A iniciativa visa não apenas homenagear o autor, mas também aproximar novas gerações de sua linguagem única, marcada por regionalismos, invenções linguísticas e uma profunda reflexão sobre o sertão brasileiro.

A programação incluiu apresentações musicais com repertório sertanejo de raiz, saraus literários com leitura dramatizada de trechos de obras como Grande Sertão: Veredas e Primeiras Estórias, além de exposições fotográficas e rodas de conversa com estudiosos da obra roseana. 

Um autor universal com alma sertaneja

Nascido em 27 de junho de 1908, na vizinha cidade de Cordisburgo, João Guimarães Rosa foi médico, diplomata e escritor. Sua vivência no interior mineiro e suas viagens pelo sertão inspiraram uma das obras mais densas e inovadoras da literatura nacional. Grande Sertão: Veredas, publicada em 1956, é considerada uma das maiores realizações literárias do século XX, explorando não apenas a linguagem, mas também questões existenciais profundas, como o bem e o mal, o amor, a morte e a identidade.

Sua escrita é caracterizada por neologismos, fusões linguísticas e um vocabulário regional que revela a riqueza cultural do Brasil profundo. Guimarães Rosa foi membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1963, mas faleceu apenas três dias após tomar posse, em 1967.

Curvelo como espaço simbólico

Embora Cordisburgo seja seu berço natal, Curvelo representa um ponto importante da geografia roseana — é parte do cenário vivo de muitas de suas narrativas. A cidade, com forte ligação à cultura sertaneja, se torna espaço simbólico de encontro entre o passado e o presente, entre a palavra escrita e a oralidade popular que tanto inspirou o autor.

Uma festa da palavra e da memória

Para os organizadores, o evento é mais do que uma homenagem: é um convite à reflexão sobre a identidade cultural brasileira. “Celebrar Guimarães Rosa é preservar não apenas um autor, mas uma maneira de ver o mundo com poesia, ética e encantamento”, destacou um dos curadores do evento.

As atividades seguem ao longo da semana com oficinas, encontros escolares e sessões de cinema comentado com adaptações de sua obra para o audiovisual.